Não vai dar tudo certo

É claro que não vai dar tudo certo! Você está preparado(a) para isso? Ou até agora foi iludido(a)?

Em toda a minha vida, ao longo dos meus quase 49 anos de idade, eu não consegui alcançar todos os meus objetivos, não realizei todos os meus desejos (ainda bem!), não consegui evitar todos os males e decepções.

Muita coisa “deu certo” e muita coisa não “deu certo”. Aliás, creio que essa é a regra geral. Todas as pessoas que conheci ou de quem ouvi falar — nenhuma delas, absolutamente nenhuma — teve TODOS os seus empreendimentos e desejos frustrados. E também nenhuma delas teve TODOS atendidos ou realizados.

Penso ser quase impossível falhar ou triunfar em tudo. Então, essa frase que ouvimos por todos os lados: “Fique tranquilo(a), vai dar tudo certo!”, me parece falsa.

Ao pensar sobre isso, preciso mencionar também o filósofo grego Epicuro, o qual dizia que o futuro não nos pertence totalmente, nem nos escapa totalmente. Não nos pertence pois independentemente do que façamos haverão variáveis fora de nosso controle. Mas, ao mesmo tempo, algum controle, algum poder nós exercemos sobre os fatos e acontecimentos futuros.

Treino para a frustração

Não, não vai dar tudo certo. E por isso, uma das ferramentas mais importantes da psicologia (pelo menos da que eu pratico) é o treino para lidar de forma funcional com a frustração — pois, fatalmente ela nos visitará. Estaremos preparados? É bom que sim! Para continuarmos nossa empreitada na vida sem maiores danos.

Ser muito frágil ou intolerante às frustrações pode causar desdobramentos ruins. Uma postura de indignação perante os fatos da vida, até onde observei, não ajudou muito as pessoas — pelo contrário, as paralisou. Aceitar as pancadas, levantar e recomeçar me parece mais adaptativo.

E se tudo tivesse dado certo?

Outro aspecto interessante que me vem à cabeça é que, se todos os meus desejos tivessem sido realizados, talvez hoje fosse menos maduro, menos preparado para os próximos capítulos da vida. Acho que muitos vivem com a ilusão de que há um destino glorioso esperando por eles, de que são especiais. Eu também tive essa ilusão — mas precisei desconstruí-la.

Não, eu não sou especial. Não há nada de glorioso previamente reservado para mim.
Estou sujeito às mesmas leis da natureza que todos os outros seres viventes. Estou sujeito a todas as mazelas.

Amor Fati

Mas, ao admitir isso, também preciso reconhecer — com a mesma honestidade — que há muitas possibilidades de gozo e beleza.
A vida é o que é, simples assim. E, fazendo uma menção ao conceito de Amor Fati de Nietzsche: ame a vida assim como ela é.